28 novembro 2005

Casshern: sobre nossa redenção?


Falar sobre Casshern é difícil! Não sei nada de cultura japonesa, então, vou falar apenas das impressões que ficaram em minha alma.

Visualmente falando o filme é lindo e, claro, revolucionário ao criar todos os cenários digitalmente; eu fiquei impressionado com o uso das cores com o propósito de ressaltar os sentimentos, como, por exemplo, no jardim da casa dos Azuma, que parece um sonho com cores vivas, alegres e luminosas, como se a luz divina estivesse sempre presente naquele lugar.

É surpreendente perceber a espiritualização dos artistas japoneses: os filmes e jogos são sempre recheados por simbolismos religiosos, os quais não são adereços ao filme, mas parte importante de suas histórias. Muito diferente da cultura ocidental onde o simbolismo é sempre para rechear algo, e conseqüentemente falha, pois a cosmovisão religiosa engloba tudo e não o contrário. Casshern é recheado de intervenções divinas, seja lá que Deus seja esse, que têm pontos importantes na história.

A critica a política é forte, a alusão ao partido nazista é clara – em ambos os lados; aliás, algo interessante é a total falta de maniqueísmo. O filme, nesse ponto, é claro: somos todos imperfeitos e precisamos lutar para nos tornarmos pessoas melhores.

Sem contar que me encheu de prazer, quase ao nível do orgasmo, ver um filme criticar o estado, e não as políticas deste, e a todos os homens que dizem ter a solução para todos os problemas. Esse ponto pode passar batido, pois podemos simplesmente culpar as políticas de um determinado governo, mas o problema é exatamente este: nós, e apenas nós, somos responsáveis pelas nossas vidas, e sempre que alguém tenta resolver ela para nós, e deixamos, pessoas morrem. A crítica não é feita ao belicismo, mas diretamente aos homens que querem ser os definidores do certo e do errado: isso vale para todos os politicos e não apenas para aqueles com que não concordamos. Em outras palavras, o filme faz afronta direta ao idealismo.

Há, também, as personagens feminias que são mulheres de verdade, ou seja, que são vulneráveis exteriormente, mas interiormente são moralmente fortes e virtuosas. Longe daquele esteriótipo da mulher guerreira, masculinizado – tipo vulgar a lá Sex and the City - que só falta coçar o saco, se tivesse um, e arrotar. As personagens feminias desse filme são maravilhosas, e, como sempre deveriam ser, o centro moral de toda a história.

Pela maioria das críticas que li muitos não entenderam o filme, eu me incluo entre eles. Mas acho que nosso erro é tentar entendê-lo a luz de nossa cultura que já apagou de nossa imaginação, mas não da realidade, as premissas básicas que criam o universo do filme, sendo a mais importante delas o fato de que Deus existe e, pior ainda, age diretamente sobre nossos destinos.

Apenas o detalhe acima dá toda uma interpretação diferente para tudo que ocorre no filme, já que os neo-humanos foram trazidos por um motivo: trazer redenção aos humanos.

Casshern tem várias críticas, mas, penso eu, que sua principal indagação é para com a nossa consciência: se Deus existisse, e resolvesse vir aqui buscar os justos, você estaria entre eles?

Deixou-me certamente apreensivo.

24 novembro 2005

OLD BOY Indiano

Post rápido e rasteiro. Que OLD BOY é um dos melhores filmes da temporada passada todo mundo sabe, ou no minimo como bom cinéfilo tem que saber. Se ainda não viu corre na locadora pois já saiu em DVD pela Europa Filmes. A indústria do cinema americano ficou louca pra fazer o remake, mas Bollywood saiu na frente. Zinda é o remake de OLD BOY. www.zindathefilm.com.

Será que chega aqui ? Vejam o trailer no site, parece que o OLD BOY foi refeito.

18 novembro 2005

1ª Mostra de Cinema UNISINOS






De 21 a 23 de novembro, a partir das 19h30, o Cine Santander Cultural, em Porto Alegre, recebe a 1ª Mostra Unisinos de Cinema. Serão apresentados 22 curta-metragens escritos, produzidos e dirigidos pelos alunos do curso de Realização Audiovisual da Unisinos.

Trata-se da primeira turma de cineastas gaúchos a receber formação universitária específica, em nível de graduação, em cinema e audiovisual. É uma nova geração que chega para imprimir sua marca à produção cinematográfica local.

O evento conta ainda com a participação dos críticos Roger Lerina (Zero Hora), Marcus Mello (revistas Aplauso e Teorema) e Glênio Povoas.


Filmes Importantes

Munich.

Novo filme de Spielberg que contará, de forma ficcional, acredito, a reação retaliatória feita pela Mossad, serviço secreto israelita, após o massacre ocorrido na olimpíada de Munich em 1972.

É importante notar que Spielberg é judeu. Aparentemente, ele vai acelerar o término do filme, pois o quer concorrendo ao Oscar. Conto os dias.


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Brokeback Mountain.


Filmagem que conta a história de amor entre dois cowboys gays. Certamente um filme polêmico, mas o qual será difícil criticar, pois basta alguém dizer que é ruim e já vai ser considerado homofóbico; aliás essa foi a desculpa que Oliver Stone - um diretor medíocre e politicamente engajado (características que tendem a aparecer sempre juntas) - para o fracasso do very boring Alexander. Penso que Brokeback Mountain é um filme importante, pois, dizem os críticos, pode ser o favorito ao Oscar.

Eu já ia me esquecendo: Ang Lee é um dos meus preferidos por sua sensibilidade. Dirigiu um dos filmes mais belos sobre a guerra civil americana: Cavalgada com o Diabo - o qual ainda vou falar aqui.

Fiquem de olho.

Abraços...

14 novembro 2005

Paradise Now

Filme palestino estréia em Israel
Um filme que trata de militantes suicidas, feito por um cineasta palestino, estreou em um dos cinemas de Tel Aviv, em Israel, após ter tido sua exibição em Londres cancelada.

LOST

Queria falar sobre LOST (apesar de ser televisão, é melhor que muito filme em cartaz), mas não sei por onde começar.

podem clicar na imagem para pegar uma versão ampliada e usar como wallpaper

Na verdade não há muito o que falar. Só posso pedir para que todos assistam, porque vale a pena. É simplesmente o melhor produto televisivo (cinematográfico?) visto em muitos anos. Pra não deixar tudo completamente no escuro: Lost é sobre sobreviventes de um acidente de avião em uma ilha misteriosa. Mas quem assiste sabe que isso é só a pontinha do iceberg.

Atualmente a AXN está reprisando a primeira temporada e a segunda começa a ser exibida em fevereiro/2006. Nos EUA a ABC já passa episódios da nova temporada e o BOX de DVDs da primeira já está à venda.

Fico devendo um texto digno da maravilha que é Lost, mas precisava fazer esse registro. Abaixo, links úteis.

TV Underground - site com os links (emule) para o download de todos os episódios já foram exibidos pela ABC (até a data deste post, o mais atual é o sexto da segunda temporada).

Lost ABC - site oficial.

LostBrasil - fórum nacional que disponibiliza as legendas dos episódios em seguida que eles são exibidos nos EUA (para o pessoal que baixa pela internet). Recomendo a visita ao LostBrasil, lá pode-se aprender tudo sobre a série, uma ótima pedida pra quem ainda não conhece.

10 novembro 2005

De Olho: The Fountain

O aguardado novo filme do diretor Darren Aronofsky ainda não tem data de estréia. De acordo com uma entrevista que ele deu recentemente ao Aint It Cool News?, eles estão na finalização do filme, mas o processo todo não vai terminar antes de fevereiro.

The Fountain é, com certeza, um dos filmes mais aguardados do momento. Já foi cancelado duas vezes e parece que agora vai. Bom, pra dar o gostinho, foi recém liberado na rede um teaser trailer que o próprio Aronofsky cortou, junto com o cara que corta todos os trailers da Warner.

Como já era esperado, o teaser só dá água na boca e me deixou ainda mais alucinado pra ver o filme.


Se você não sabe de que filme eu estou falando, envergonhe-se e clique aqui. Se você não viu nenhum dos dois primeiros filmes desse cara, envergonhe-se duplamente e clique aqui e aqui.

O 16por9 assume o compromisso de publicar, quando possível, informações sobre esses dois filmes já realizados pelo diretor Darren Aronofsky.

09 novembro 2005

Final Fantasy VII - Advent Children

Aproveitando o gancho de meu companheiro de blog Delerue, não poderia deixar de comentar o filme, que está para ser lançado no final do ano: Final Fantasy VII - Advent Children.

Todos aqueles que já tiveram um Playstation I sabem do que estou falando, quando, digo que este filme é a continuação do Final Fantasy VII. Um dos cinco melhores jogos de playstation de todos os tempos.

O trailer, em japonês - eu sei que é ruim -, pode ser visto aqui. Reparem que aparentemente ele é muito melhor que o Final Fantasy citado por Delerue. Esperamos que seja.

Atualização.

Acabei de ver o filme. Sem tempo, pelo menos para escrever tudo o que gostaria, digo, apenas, que ele é apenas para os iniciados: quem não conhecer bem a história do jogo não vai entender as principais referências, mas, que tirando isso, é um deleite visual raro. Lindo mesmo.

Se não conhecem a história do jogo, aprendam-na; garanto que vale o esforço.

Abraços...

Google e a Crítica de Cinema

Por acidente ou seja lá o que eu digitei no oráculo pós-moderno Google, retornou-me algo muito inusitado com relação a um filme. O Google agora está hierarquizando todas as críticas de sites referente a um filme. Teste digitando, movie: Magnolia. Outro teste que fiz foi digitando o nome de um filme já em cartaz no circuito americano. Digite, Capote. Acho que isso pode ser útil, avaliem e vamos debater.

08 novembro 2005

Jake Gyllenhaal, o garoto do ano?

Você se lembra daquele garoto “maluco” do Cult-Movie Donnie Darko? Jake Gyllenhaal, esse garoto de nome impronunciável está preste a invadir as telas neste fim de ano. Frequentemente Hollywood tenta promover um novo galã lançando uma avalanche de filmes estrelados por ele. Ao que parece desta vez as apostas são em Jake Gyllenhaal.

Recentemente ele foi muito elogiado em Brokeback Mountain, filme de Ang Lee (Tigre o Dragão, Hulk) que retrata a relação amorosa entre dois cowbois. O filme ganhou o Leão de Ouro do Festival de Veneza. Ainda não há previsão de lançamento no Brasil, mas parece ser um dos filmes mais interessantes do ano. Como se não bastasse trabalhar com o talentoso Ang Lee, Gyllenhaal estrela Soldado Anônimo, novo filme de Sam Mendes (Beleza Americana). O filme aborda as memórias de um fuzileiro naval americano durante a Guerra do Golfo. Pelo tema o filme já é uma promessa. Ainda estrela A Prova, com Gwyneth Paltrow e Anthony Hopkins. Nele uma jovem enfrenta problemas ao lidar com pessoas por temer enlouquecer como o pai, um gênio da matemática. O filme é dirigido por John Madden (Shakespeare Apaixonado) está previsto para sair no Brasil em 18/11 e foi bem recebido nos festivais em que foi exibido.

Ao que parece Jake Gyllenhaal está muito bem cotado em Hollywood. Seria este post talvez um anúncio publicitário? Gyllenhaal será o garoto do ano de Hollywood? Minhas suspeitas sobre esse garoto foram alavancadas com a recém sua escalação como um dos protagonistas de Zodiac, próximo filme de David Fincher (Seven, Clube da Luta). Em Zodiac, Dois jornalistas e um inspetor tentam capturar um serial killer conhecido como “Zodíaco”, responsável por aterrorizar São Francisco na década de 70. Baseado em fatos reais, o assassino ficou conhecido por enviar cartas a polícia e aos jornais fornecendo evidências do seu envolvimento com as mortes. Em todas as cartas ele a iniciava com a frase “Aqui quem fala é o Zodíaco”. Algumas das cartas eram codificadas e até hoje nunca foram decifradas. O Zodíaco nunca foi capturado, e segundo pesquisadores, ele pode ainda estar vivo. Previsto para temporada 2006, Zodiac já é um dos filmes mais aguardados para o ano que vem. Será que Fincher vai fazer com Gyllenhaal o que Seven e Clube da Luta fizeram para Brad Pitt? Vamos ficar de olho nesse garoto.

07 novembro 2005

Gosto não se discute?

Gosto não se discute é uma daquelas frases que todo mundo diz, mas que ninguém compreende exatamente. Frases feitas só funcionam se conhecemos o contexto delas; George Orwell apontava como uma das formas de destruição da língua inglesa exatamente o uso abundante de frases prontas, as quais ninguém mais sabe, ou de onde vieram, ou o que significam¹.

Portanto, que tipo de gosto não se discute? E por qual motivo não se discute?

Gosto é a expressão de um desejo subjetivo. Se eu gosto de um filme, e digo que esse filme é bom , porque ele me dá uma sensação boa, então, estou fazendo uma afirmação sobre eu mesmo e ela só vale para o filme em relação a mim. Isso significa que eu gostei das sensações que o filme me causou. Neste caso, concordo plenamente que gosto não se discute, pois como alguém pode querer provar que eu não senti o que senti? Aliás, esse é o único contexto em que essa expressão pode ser realmente verdadeira.

Porém, esta expressão, nesses dias de relativismo, é usada não para que se possa defender o direito de se ter sensações em paz após a apreciação de um filme, mas para que se possa elevar estas sensações ao nível de juiz supremo do padrão de beleza.

Essa atitude é que causa todos os problemas.

É aqui que entra a função de um crítico que é exatamente fazer a distinção entre o que é bom para ele e o que é bom independentemente dele, ou seja, a diferenciação entre bom cinema e cinema bom. Mas isso exige tempo e dedicação - algo que a maioria das pessoas não gostaria de fazer - que o levarão, se for honesto consigo mesmo, a ter boas sensações com aquilo que é belo, unindo assim o bom cinema com o cinema bom, o que é a definição mesmo de bom gosto.

Os ataques que a maioria dos críticos recebe, basta ver os fóruns do Cinema em Cena, ocorrem exatamente porque - em tempos de relativismo - qualquer pessoa que se diga detentora de um pouco de verdade já é considerada arrogante, algo que não deixa engraçado, já que na verdade estas pessoas que não aceitam que o crítico se curve perante as regras da estética adorariam que ele o fizesse perante as sensações que elas tiveram: algo que é tão arrogante quanto idiota.

Portanto, gosto realmente não se discute, e na verdade nunca se discutiu, o que se discute são filmes.

Abraços...

1- Ler o ensaio aqui. As frases prontas, fora de contexto, acabam por não significar nada e, por isso, as pessoas acabam colocando nelas o sentido, ou que querem, ou que são levadas a colocarem, sentido esse que pode ser controlado para fins políticos. É nesse tom que se dá o puxão de orelha dado por Orwell.

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Para quem não sabe a definição de beleza, ei-lá aqui:



No afterlife after this...

O novo capítulo de Resident Evil (pro cinema, não pros games, inteligência rara) terá, entre outros, dois grandes problemas que poderão matar o filme de vez (hahaha).

O curioso é que uma recente notícia do Omelete explicitou esses dois grandes problemas. Veja abaixo e confira o grifo em negrito.

Fonte: Omelete
A Constantin Film e a Davis Films revelaram ao Hollywood Reporter detalhes sobre Resident Evil: Afterlife, o terceiro capítulo da cinessérie que adapta para as telas os populares videogames de terror.

Segundo as produtoras, Afterlife será ambientado no deserto norte-americano, depois que o mundo sucumbiu à praga dos zumbis mutantes do primeiro filme. A ação também deve deixar ganchos para o quarto filme, que se passará em Tóquio.

As filmagens de Afterlife acontecerão no deserto australiano. Paul W.S. Anderson atualmente escreve o roteiro que terá Milla Jovovich mais uma vez como a humana geneticamente alterada Alice.


Se fosse foda, era bom.

04 novembro 2005

1,000 acessos

O 16por9 completou hoje mil acessos únicos desde que é medido o tráfego do site, no dia 22 de setembro. Apesar das discussões nos posts ainda estarem começando a aflorar e abaixo do ideal, a média de acessos únicos diários fica entre 20 e 25 por dia, o que é satisfatório para um blog que existe desde o dia 14/09.

Gostaria de agradecer ao Pablo Villaça, crítico do Cinema em Cena que recomendou o 16por9 em seu blog. E aos editores dos blogs Caretice Ecumênica, Wagner Souza e Cine Sequência, Gilvan Marçal, que nos linkaram por conta própria. Vou abrir uma seção de links na barra lateral do blog para retribuir o gesto.

Agradeço também aos que escrevem no site e aos que lêem.

Se qualquer leitor quiser falar alguma coisa, os comentários estão sempre abertos. Se tiverem sugestões, usem o link "Entre em Contato", na barra lateral à direita.

Obrigado :)

02 novembro 2005

Fail Safe

Fail Safe (Código de Ataque, no Brasil), dirigido por Stephen Frears (de Alta Fidelidade) e produzido por George Clooney, tem uma peculiaridade: ele foi encenado e transmitido ao vivo na televisão americana no dia 9 de abril de 2000. Foram usados 22 sets, em dois estúdios diferentes da Warner Bros. Além de ser uma proeza técnica, de produção e do elenco, é um belo filme. É baseado no livro de Eugene Burdick e Harvey Wheeler e já teve uma versão em 1964 (com o título nacional de Limite de Segurança), dirigida por Sidney Lumet com Henry Fonda e Walter Matthau.

No auge da Guerra Fria, um bombardeio americano recebe, por acidente, a ordem de atacar Moscou. A partir daí acompanhamos, em tempo real, o esforço das duas nações para que o erro seja corrigido. E é curioso ver os dois países fazendo de tudo para que uma guerra não acontecesse, porém sempre com a desconfiança que tudo pode ser uma jogada do lado inimigo. A conclusão do filme nos mostra até onde eles foram para evitar isso.

O filme funciona extremamente bem e em poucos minutos eu esqueci completamente que estava assistindo a uma encenação ao vivo e entrei pra dentro da tela, acompanhando de perto aqueles acontecimentos. Com um crescente clima de tensão e com ótimas atuações de praticamente todo o elenco (destaque para Richard Dreyfuss como o presidente e Noah Wyle como seu tradutor Buck), Fail Safe é uma obra que deve ser conferida.

Fica a sugestão.

COMPRE AQUI A VERSÃO IMPORTADA DO DVD
COMPRE AQUI A VERSÃO DE 1964 (Limite de Segurança)

01 novembro 2005

Novo membro

Tem gente nova que vai postar aqui no 16por9. É o Gilvan Marçal, que escreve no blog CineSequência e agora vai começar a jogar suas idéias por aqui também.

Aguardem seus textos.

Sensualidade Virtual (Virtual Sexuality, UK, 1999)

Para inglês nenhum botar defeito

Escrito em dezembro de 2002
Obs.: contém spoilers.

A produção britânica Sensualidade Virtual consegue a proeza de ser um filme voltado para adolescentes, conter estereótipos e ainda assim ser inteligente. Com um roteiro super bem amarrado e genioso, o trabalho do diretor Nick Hurran deixa no ar diversas questões, muitas até mesmo de ordem existencial. Destaque para a montagem de John Richards, repleta de geniais racors.

Desesperada para encontrar o homem perfeito, a adolescente virgem Justine, de 17 anos, narra suas bizarras utopias femininas para o espectador. Com todos aqueles delírios romântico/conservadores de menina virgem, ela estipula um estereótipo perfeito para torná-la mulher pela primeira vez.

No colégio existem os estereótipos clássicos: a melhor amiga dela, a garota popular (e gostosa pra burro!), o cara popular (Alex) e o nerd (Chas). O nerd obviamente é perdidamente apaixonado por Justine, que é vidrada na beleza e status de Alex. Um certo dia Chas leva Justine para uma exposição de realidade virtual onde ela entra numa máquina virtual que tem o objetivo de criar o estereótipo virtual perfeito. Após construir seu Deus Apolo, acontece um bizarro acidente que faz com que o ser virtual se torne mais concreto do que nunca, mas com um detalhe: com a personalidade de Justine.

Após Jake (a mais nova perfeita forma masculina de Justine) convencer Chas de que ele é na verdade ela, os dois ficam juntos todo o tempo. Nesse ponto os dois (e, inclusive, o espectador) acreditam que Justine foi transformada em Jake, fato que se mostra irreal quando Jake encontra a melhor amiga de Justine e a própria dentro do carro, na rua.

Claro que a beleza de Jake chama a atenção da cobiçada gostosona do colégio, assim como causa inveja em Alex. Não diferente, Justine se apaixona por Jake, já que - mesmo sem ela lembrar - ele é o desenho do homem perfeito, segundo ela. Justine acaba descobrindo que para ter sua primeira noite de mulher com Jake terá que possuir fama, e somente Alex pode ajudá-la nesse aspecto - visto que ela é virgem e ele com um status invejoso. No tão esperado dia, quando Alex vai torná-la mulher, Jake aparece antes fazendo exatamente tudo o que Justine sempre sonhou - já que ele também é ela. Ela se apaixona mais ainda por ele, mas logo descobre que Jake não é nada além de sua criação e que eles são pessoas exatamente iguais. Há uma cena muito interessante onde Justine começa a falar e Jake fala as mesmas coisas ao mesmo tempo, dando a entender que eles dois são a mesma coisa, logo Jake sabe o que Justine pensa.

Após conseguirem roubar a máquina que gerou Jake, Justine, com a ajuda de Chas, consegue deletar a existência de Jake. Algum tempo depois Chas e Justine se encontram casualmente num ônibus e Chas solta espontaneamente uma breve, ingênua e tímida declaração de que gosta do cheiro dela. No dia seguinte Justine aparece na casa dele dizendo que Alex não poderia ajudá-la numa coisa, mas que ele sim. Eles se beijam. O filme termina, mas durante os créditos Justine vai explicando o que aconteceu depois. "Chas não era o homem perfeito, se bem que isso não existe mesmo, mas sei que a minha primeira transa (com ele) foi muito legal e não poderei jamais dizer "Oh! Que traumático!". Claro que nosso amor não durou para sempre. E o Chas depois de mim teve muitas outras garotas...".

É simplesmente genial o fato do estereótipo de Justine ser uma cópia dela mesma, e, além disso, virtual. Ou seja, o tal sujeito tanto não existe concretamente, quanto, mesmo existindo, seria igual a ela. E as sacações não param por aí. Há uma outra cena onde Jake, pouco antes de ser deletado, diz a Justine: "Você não está buscando o que quer, Justine, mas uma extensão do seu ego, o que você acha que precisa ter".
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Revisitado em outubro de 2005

Cenas não menos geniais foram esquecidas na primeira resenha, como quando Jake, mesmo sendo por dentro Justine, começa a sentir um incontrolável tesão pela gostosona popular do colégio. E em seguida, quando Chas questiona por que as garotas têm interesse numa pessoa como Alex, no que Jake (mais Justine do que nunca) responde que não sabe ao certo, mas acha que é porque as mulheres são programadas. Essa cena traduz boa parte da essência mais sutil de Sensualidade Virtual. Ou seja, o filme sugere que há um conflito eterno entre o que se deseja fisicamente e aquilo que se pensa racionalmente. Ou ainda: um conflito entre o que se deseja ter como status (seja qual for) e o que realmente se sente. Apesar de essas questões soarem demasiado óbvias (clichê mesmo), é preciso lembrar que suas abordagens durante o filme (certamente direcionado a adolescente) são inteiramente descompromissadas e naturais (às vezes cômicas), jamais tendo grandes pretensões da verdade. E no mais, sabemos esses questionamentos, mesmo sendo recorrentes, jamais obtiveram qualquer resposta precisa até hoje, o que ainda os faz extremamente pertinentes.

P.S.: alguém aí notou que, apesar de inglês, o filme tem um calor quase latino?