Sensualidade Virtual (Virtual Sexuality, UK, 1999)
Para inglês nenhum botar defeito
Escrito em dezembro de 2002
Obs.: contém spoilers.
A produção britânica Sensualidade Virtual consegue a proeza de ser um filme voltado para adolescentes, conter estereótipos e ainda assim ser inteligente. Com um roteiro super bem amarrado e genioso, o trabalho do diretor Nick Hurran deixa no ar diversas questões, muitas até mesmo de ordem existencial. Destaque para a montagem de John Richards, repleta de geniais racors.
Desesperada para encontrar o homem perfeito, a adolescente virgem Justine, de 17 anos, narra suas bizarras utopias femininas para o espectador. Com todos aqueles delírios romântico/conservadores de menina virgem, ela estipula um estereótipo perfeito para torná-la mulher pela primeira vez.
No colégio existem os estereótipos clássicos: a melhor amiga dela, a garota popular (e gostosa pra burro!), o cara popular (Alex) e o nerd (Chas). O nerd obviamente é perdidamente apaixonado por Justine, que é vidrada na beleza e status de Alex. Um certo dia Chas leva Justine para uma exposição de realidade virtual onde ela entra numa máquina virtual que tem o objetivo de criar o estereótipo virtual perfeito. Após construir seu Deus Apolo, acontece um bizarro acidente que faz com que o ser virtual se torne mais concreto do que nunca, mas com um detalhe: com a personalidade de Justine.
Após Jake (a mais nova perfeita forma masculina de Justine) convencer Chas de que ele é na verdade ela, os dois ficam juntos todo o tempo. Nesse ponto os dois (e, inclusive, o espectador) acreditam que Justine foi transformada em Jake, fato que se mostra irreal quando Jake encontra a melhor amiga de Justine e a própria dentro do carro, na rua.
Claro que a beleza de Jake chama a atenção da cobiçada gostosona do colégio, assim como causa inveja em Alex. Não diferente, Justine se apaixona por Jake, já que - mesmo sem ela lembrar - ele é o desenho do homem perfeito, segundo ela. Justine acaba descobrindo que para ter sua primeira noite de mulher com Jake terá que possuir fama, e somente Alex pode ajudá-la nesse aspecto - visto que ela é virgem e ele com um status invejoso. No tão esperado dia, quando Alex vai torná-la mulher, Jake aparece antes fazendo exatamente tudo o que Justine sempre sonhou - já que ele também é ela. Ela se apaixona mais ainda por ele, mas logo descobre que Jake não é nada além de sua criação e que eles são pessoas exatamente iguais. Há uma cena muito interessante onde Justine começa a falar e Jake fala as mesmas coisas ao mesmo tempo, dando a entender que eles dois são a mesma coisa, logo Jake sabe o que Justine pensa.
Após conseguirem roubar a máquina que gerou Jake, Justine, com a ajuda de Chas, consegue deletar a existência de Jake. Algum tempo depois Chas e Justine se encontram casualmente num ônibus e Chas solta espontaneamente uma breve, ingênua e tímida declaração de que gosta do cheiro dela. No dia seguinte Justine aparece na casa dele dizendo que Alex não poderia ajudá-la numa coisa, mas que ele sim. Eles se beijam. O filme termina, mas durante os créditos Justine vai explicando o que aconteceu depois. "Chas não era o homem perfeito, se bem que isso não existe mesmo, mas sei que a minha primeira transa (com ele) foi muito legal e não poderei jamais dizer "Oh! Que traumático!". Claro que nosso amor não durou para sempre. E o Chas depois de mim teve muitas outras garotas...".
É simplesmente genial o fato do estereótipo de Justine ser uma cópia dela mesma, e, além disso, virtual. Ou seja, o tal sujeito tanto não existe concretamente, quanto, mesmo existindo, seria igual a ela. E as sacações não param por aí. Há uma outra cena onde Jake, pouco antes de ser deletado, diz a Justine: "Você não está buscando o que quer, Justine, mas uma extensão do seu ego, o que você acha que precisa ter".
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Revisitado em outubro de 2005
Cenas não menos geniais foram esquecidas na primeira resenha, como quando Jake, mesmo sendo por dentro Justine, começa a sentir um incontrolável tesão pela gostosona popular do colégio. E em seguida, quando Chas questiona por que as garotas têm interesse numa pessoa como Alex, no que Jake (mais Justine do que nunca) responde que não sabe ao certo, mas acha que é porque as mulheres são programadas. Essa cena traduz boa parte da essência mais sutil de Sensualidade Virtual. Ou seja, o filme sugere que há um conflito eterno entre o que se deseja fisicamente e aquilo que se pensa racionalmente. Ou ainda: um conflito entre o que se deseja ter como status (seja qual for) e o que realmente se sente. Apesar de essas questões soarem demasiado óbvias (clichê mesmo), é preciso lembrar que suas abordagens durante o filme (certamente direcionado a adolescente) são inteiramente descompromissadas e naturais (às vezes cômicas), jamais tendo grandes pretensões da verdade. E no mais, sabemos esses questionamentos, mesmo sendo recorrentes, jamais obtiveram qualquer resposta precisa até hoje, o que ainda os faz extremamente pertinentes.
P.S.: alguém aí notou que, apesar de inglês, o filme tem um calor quase latino?
Escrito em dezembro de 2002
Obs.: contém spoilers.
A produção britânica Sensualidade Virtual consegue a proeza de ser um filme voltado para adolescentes, conter estereótipos e ainda assim ser inteligente. Com um roteiro super bem amarrado e genioso, o trabalho do diretor Nick Hurran deixa no ar diversas questões, muitas até mesmo de ordem existencial. Destaque para a montagem de John Richards, repleta de geniais racors.
Desesperada para encontrar o homem perfeito, a adolescente virgem Justine, de 17 anos, narra suas bizarras utopias femininas para o espectador. Com todos aqueles delírios romântico/conservadores de menina virgem, ela estipula um estereótipo perfeito para torná-la mulher pela primeira vez.
No colégio existem os estereótipos clássicos: a melhor amiga dela, a garota popular (e gostosa pra burro!), o cara popular (Alex) e o nerd (Chas). O nerd obviamente é perdidamente apaixonado por Justine, que é vidrada na beleza e status de Alex. Um certo dia Chas leva Justine para uma exposição de realidade virtual onde ela entra numa máquina virtual que tem o objetivo de criar o estereótipo virtual perfeito. Após construir seu Deus Apolo, acontece um bizarro acidente que faz com que o ser virtual se torne mais concreto do que nunca, mas com um detalhe: com a personalidade de Justine.
Após Jake (a mais nova perfeita forma masculina de Justine) convencer Chas de que ele é na verdade ela, os dois ficam juntos todo o tempo. Nesse ponto os dois (e, inclusive, o espectador) acreditam que Justine foi transformada em Jake, fato que se mostra irreal quando Jake encontra a melhor amiga de Justine e a própria dentro do carro, na rua.
Claro que a beleza de Jake chama a atenção da cobiçada gostosona do colégio, assim como causa inveja em Alex. Não diferente, Justine se apaixona por Jake, já que - mesmo sem ela lembrar - ele é o desenho do homem perfeito, segundo ela. Justine acaba descobrindo que para ter sua primeira noite de mulher com Jake terá que possuir fama, e somente Alex pode ajudá-la nesse aspecto - visto que ela é virgem e ele com um status invejoso. No tão esperado dia, quando Alex vai torná-la mulher, Jake aparece antes fazendo exatamente tudo o que Justine sempre sonhou - já que ele também é ela. Ela se apaixona mais ainda por ele, mas logo descobre que Jake não é nada além de sua criação e que eles são pessoas exatamente iguais. Há uma cena muito interessante onde Justine começa a falar e Jake fala as mesmas coisas ao mesmo tempo, dando a entender que eles dois são a mesma coisa, logo Jake sabe o que Justine pensa.
Após conseguirem roubar a máquina que gerou Jake, Justine, com a ajuda de Chas, consegue deletar a existência de Jake. Algum tempo depois Chas e Justine se encontram casualmente num ônibus e Chas solta espontaneamente uma breve, ingênua e tímida declaração de que gosta do cheiro dela. No dia seguinte Justine aparece na casa dele dizendo que Alex não poderia ajudá-la numa coisa, mas que ele sim. Eles se beijam. O filme termina, mas durante os créditos Justine vai explicando o que aconteceu depois. "Chas não era o homem perfeito, se bem que isso não existe mesmo, mas sei que a minha primeira transa (com ele) foi muito legal e não poderei jamais dizer "Oh! Que traumático!". Claro que nosso amor não durou para sempre. E o Chas depois de mim teve muitas outras garotas...".
É simplesmente genial o fato do estereótipo de Justine ser uma cópia dela mesma, e, além disso, virtual. Ou seja, o tal sujeito tanto não existe concretamente, quanto, mesmo existindo, seria igual a ela. E as sacações não param por aí. Há uma outra cena onde Jake, pouco antes de ser deletado, diz a Justine: "Você não está buscando o que quer, Justine, mas uma extensão do seu ego, o que você acha que precisa ter".
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Revisitado em outubro de 2005
Cenas não menos geniais foram esquecidas na primeira resenha, como quando Jake, mesmo sendo por dentro Justine, começa a sentir um incontrolável tesão pela gostosona popular do colégio. E em seguida, quando Chas questiona por que as garotas têm interesse numa pessoa como Alex, no que Jake (mais Justine do que nunca) responde que não sabe ao certo, mas acha que é porque as mulheres são programadas. Essa cena traduz boa parte da essência mais sutil de Sensualidade Virtual. Ou seja, o filme sugere que há um conflito eterno entre o que se deseja fisicamente e aquilo que se pensa racionalmente. Ou ainda: um conflito entre o que se deseja ter como status (seja qual for) e o que realmente se sente. Apesar de essas questões soarem demasiado óbvias (clichê mesmo), é preciso lembrar que suas abordagens durante o filme (certamente direcionado a adolescente) são inteiramente descompromissadas e naturais (às vezes cômicas), jamais tendo grandes pretensões da verdade. E no mais, sabemos esses questionamentos, mesmo sendo recorrentes, jamais obtiveram qualquer resposta precisa até hoje, o que ainda os faz extremamente pertinentes.
P.S.: alguém aí notou que, apesar de inglês, o filme tem um calor quase latino?
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