Final Fantasy - A realidade em xeque II
Todas essas contradições do encantamento tecnológico nos remetem a outras questões ainda mais profundas. Estamos realmente buscando a perfeição? Nesse aspecto, Final Fantasy parece discordar. Foram anos de trabalho em cima das texturas da pele de cada personagem, a fim de recriar até mesmo as imperfeições humanas mais discretas. Ao que parece, demonstrar imperfeições dá mais credibilidade do que pasteurizar. Cabe perguntar como serão reproduzidos os corpos nus das futuras modelos 3D: perfeitas, como supostamente sonha o homem, ou imperfeitas para estarem mais próximas da realidade?
Na época do lançamento de Final Fantasy, o alarde – ao contrário das bilheterias – foi tão grande que alguns críticos se abstiveram de análises cinematográficas mais puritanas, optando exclusivamente por um encantamento tecnológico. A idéia do fantástico pelo fantástico parece estar mesmo em alta, abrindo de vez caminho para o cinema do áudio-visual imediatista ao pé da letra. Ao que tudo indica, as tentativas de alguns diretores, como Robert Zemeckis (Uma Cilada para Roger Rabbit, Forrest Gump e Contato), de não serem reféns dos avanços tecnológicos foram solenemente ultrapassadas e esquecidas. Resta saber até quando essa perplexidade oca irá alimentar, mesmo que em alguns casos precariamente, a indústria dos multiplex e blockbusters.
E se um dia o cinema for somente feito em animação de terceira dimensão? James Woods (um dos atores que dubla o filme) desconversa: “Isso de atores virtuais tomarem nosso lugar é besteira. Mas pelo que Sakaguchi me pagou eu não me importaria de passar o resto da vida fazendo vozes de personagens virtuais”. De qualquer forma, mesmo que o longa não filme atores e locações reais, ainda não é possível excluir muito do trabalho humano. Foram necessários vários técnicos para conseguir organizar uma estação gráfica capaz de renderizar as sofisticadas técnicas digitais. Vários artistas 3D foram contratados para modelar todos os cenários e personagens, e mais tantos para desenharem manualmente o abrir e fechar das bocas de cada personagem. Houve ainda uma outra equipe, responsável por criar todos os efeitos sonoros, e uma outra destinada a captar os movimentos de pessoas reais para então inserir em cada personagem. Fora todos os atores contratados para dublarem cada um dos personagens. Tudo isso reforça que ainda não é possível fugir de índices reais para realizar produtos virtuais. Somando a tudo isso o generoso orçamento, não fica difícil concluir que Final Fantasy não foi um projeto simples, e que jamais excluiu o papel do ser humano. Cabe apenas lembrar que o início de praticamente toda tecnologia é marcado por um custo e trabalho extremamente maiores. Mas, pelo menos ao que parece, por mais otimizados que estejam esses recursos, um filme não será gerado unicamente pela vontade de uma máquina, como tantos tentam sugerir. De qualquer forma, mesmo com esse futuro incerto, algo está bem claro com todo esse frenético avanço tecnológico: a realidade está em xeque.
Fim